Depois, quando ele começa a falar, traduzimos resmungos silábicos isolados, os quais vêm em ordem aleatória e sem sentido. Assim, aprendemos um novo idioma: bebebês.
Neste idioma, uma sílaba resmungada tem vários significados, os quais vivem em constante mudança. Por exemplo: mama significa leite, mas também pode significar mamãe, ou mesmo mamadeira. Depois, quando ela cresce mais um pouco, passa a significar outra coisa, totalmente diferente do que significava antes.
Por isto, demora um tempo até começarmos a compreender o que nosso filho está nos falando, principalmente se ele não repete os sons com muita frequência. Para entender, observamos os momentos que ele usa os sons, os gestos que faz quando fala aquelas sílabas e a forma como atendemos o pedido dele.
Ou então, quando nosso filho tem bastante convivência com outras crianças, tomamos como base os sons que elas emitem, partindo do princípio que ele aprende com as outras pessoas que ele convive. Fazer isto nos ajuda a traduzir uma parte das mensagens: fome, sono, chamar uma pessoa específica como mãe ou pai.
Mesmo assim, tem sons que não conseguimos entender, ficando sem significado no nosso dicionário tradutor. Mas, conforme o tempo passa, e ele vai crescendo, os sons e sílabas vão perdendo espaço para a nossa língua, as nossas palavras. Aos poucos ele aprende o nosso idioma (português), e passa a usá-lo para comunicar com nós.
Por isso, é preciso que tenhamos muita calma e paciência, para passar por esta fase: quanto mais ficamos ansiosos e frustrados, menos conseguimos nos comunicar com nosso filho. Inclusive, temos que aceitar que por mais que entendamos as mensagens dele na maioria das vezes, haverá sons que não farão sentido para nós, somente para ele.
Pois, um dia, ele irá falar conosco na nossa linguagem.
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