Mas nunca levei a sério esta idéia: era uma espécie de sonho longínquo, muito distante. Até que me descobri grávida e meu mundo caiu, virou um caos! Tudo o que eu queria e sonhava se afastou de mim, o céu escureceu e eu não podia voltar atrás: já tinha uma vida dentro de mim, vida esta que tinha o direito de viver...
Eu tinha que aceitar a transformação que aconteceu, em mim e no meu mundo, e seguir em frente, com a responsabilidade de dar a luz à uma vida nova e educá-la, para que fosse um ser humano decente neste mundo.
Primeiro eu me senti angustiada, como uma adolescente que engravida do namorado num momento inoportuno, pensando "que burrada eu fiz". Depois me senti traída, achando que meu marido tinha me enganado, me engravidado de propósito.
E então começou o pensamento do aborto, uma vontade de que aquela vida não vingasse... E em seguida uma culpa por estes pensamentos, pois aprendi na minha religião que aborto é crime contra a vida que está por vir, contra mim e contra Deus. E este ciclo continuava: aborto/morte, culpa, aborto/morte, culpa...
Eu não via luz no fim do túnel, só via a minha vida em cacos, sem saber o que fazer, para onde ir... Para mim a minha vida tinha acabado, literalmente! E neste meio a luta entre a minha parte que desejava voltar atrás e a parte que assumiria o que estava por vir.
Me sentia mal, fisicamente e mentalmente, por uma série de coisas que bagunçaram a minha cabeça, como não poder vestir as minhas roupas que eu usava porque estavam apertadas ou não cabiam mais, ter medo de ser internada num hospital (principalmente levar agulhada na veia), passar mal durante a gravidez, perceber que meu corpo estava funcionando diferente e não era o meu corpo original, ficar restrita na alimentação não podendo comer as comidas que eu gostava, entre outras.
Isto tudo ligado à questão principal: não queria ter um filho! Não queria nada daquelas mudanças, não queria que a minha vida passasse a ser outra! Queria curtir mais meu casamento, queria estudar, conhecer lugares que tinha vontade... Enfim, estava planejando outros planos pra mim.
E junto com isto existia o medo, pois eu achava um absurdo eu pensar desta maneira, achava que se as pessoas soubessem iam me julgar mal, não iam entender ou compreender o que estava se passando na minha cabeça.
Chegou num ponto em que assumi isto tudo para o meu marido, achando que ele ia ficar com raiva de mim, que ia ficar chateado comigo. E quando eu fiz isto, me surpreendi: ele foi o primeiro a me dar a mão para mim sair dessa. Não me julgou nem me criticou: procurou o tempo todo me incentivar a ver o lado bom das coisas, a perder os medos que eu estava tendo, a organizar a minha mente para o novo...
Aos poucos, com a ajuda dele tenho conseguido pôr a minha cabeça em ordem. E a parte mais interessante é que estou redescobrindo vários papéis meus: o papel de esposa, o papel pessoal meu, o papel de mãe. o papel profissional.
Hoje eu enxergo uma luz, uma saída. Sei que a minha vida antes de tornar mãe não vai voltar, sei que não tenho mais como ter a minha vida antiga de volta. Mas aos poucos estou construindo uma nova vida pra mim, redescobrindo as coisas que eu já sabia e descobrindo novas facetas que eu não sabia que tinha.
Hoje enxergo mais claramente e aceito melhor este novo desafio posto em minha vida: ser mãe!
Muito bom!!!!
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